A sigla XBRL representa no Inglês eXtensible Business Reporting Language. Numa possível tradução para o Português podemos ter XBRL como uma linguagem de reporte financeiro extensível. É uma linguagem pois, é um padrão uniforme de comunicação entre duas máquinas, que normalmente comunicam informação de reporte financeiro e tem a possibilidade de ser estendida à medida das necessidades de reporte dos seus utilizadores.
A ideia de criar esta nova linguagem surgiu a partir de Charles Hoffman, um auditor nos Estados Unidos (CPA – Certified Public Accountant), que considerou os processos de reporte financeiro da altura bastante repetitivos e tediosos. Inicialmente e, isto por volta de 1998, Charles Hoffman elaborou diversos protótipos de relatórios financeiros e programas de auditoria codificados em XML (eXtensible Markup Language) mas desde logo se apercebeu que esta linguagem de marcação extensível é bastante geral e limitada para as suas intenções [Hof01]. Dessa forma, com o apoio da AICPA (American Institute of CPAs) e de mais doze empresas líderes em auditoria e informática, decide criar uma linguagem apropriada para o reporte financeiro.
O XBRL surge, portanto, da linguagem mãe XML mas direccionado para a área financeira. Esta linguagem mãe é já conhecida e utilizada por várias instituições Portuguesas como “uma nova forma de entrega de obrigações declarativas de natureza contabilística, fiscal e estatística” [Ies07]. Actualmente as empresas nacionais podem comunicar os seus relatórios financeiros ao Banco de Portugal, Ministério das Finanças e da Administração Pública, Ministério da Justiça e Instituto Nacional de Estatísticas de uma forma automática, sem custos ou recursos adicionais e sem muito esforço através do XML. Estas vantagens são alcançadas pelas empresas que possuam sistemas integrados de gestão (ERPs) ou simples sistemas de contabilidade (Sage, Primavera, etc) que incorporam a capacidade de exportar os relatórios financeiros no formato XML tal como definido no Portal das Finanças [Efi03].
Estamos, assim, perante uma situação ideal em que a máquina pertencente a uma empresa comunica com a máquina de uma instituição reguladora sem que haja intervenção humana e que [Alv01]:
– reduz a necessidade de introduzir a informação financeira mais do que uma vez, reduzindo o risco de erros na introdução de informação e eliminando a necessidade de introduzir a informação manualmente para vigorar em vários formatos, diminuindo dessa forma o custo de preparar e distribuir a informação financeira,
– aumenta a eficiência da Internet, como a primeira fonte de informação financeira e vai de encontro às necessidades actuais dos investidores e outros utilizadores de informação financeira ao indicar informação precisa para a tomada de decisões.
Contudo e, mesmo perante estes benefícios que as linguagens de marcação possuem, a linguagem XML usada desta forma tem a desvantagem de ser uma linguagem proprietária. No caso acima referido, para a aplicação IES, os ficheiros XML a serem utilizados foram definidos e estruturados de uma forma rígida. Uma outra instituição reguladora pode definir e estruturar outros ficheiros XML de uma outra forma havendo depois dois formatos diferentes de XML. O XBRL surge no sentido de criar uma definição e estrutura universal de ficheiros para recolha de informação financeira criando-se assim um padrão específico e apropriado.
Um pouco por todo o mundo, as entidades reguladoras têm vindo a mandatar o XBRL como o formato de recolha e arquivamento de relatório financeiros [Xbp11]. Nos EUA, a FDIC (Federal Deposit Insurance Corporation) usa-o para recolha de relatórios de conformidade. A SEC (Securities and Exchange Commission) usa o XBRL para a recolha de informação financeira de mais de 9 mil empresas americanas. Na China, a CSRC (China Securities Regulatory Commission) também usa o XBRL para a recolha de informação financeira de empresas cotadas em bolsa. A nível Europeu será usado pela EBA (European Banking Authority) para cumprimento dos relatórios que se fixam em três pilares e 25 princípios básicos sobre contabilidade e supervisão bancária, exigidos pelo Acordo de Capital de Basiléia II. E mesmo aqui ao nosso lado, em Espanha, as empresas têm de reportar em XBRL à CNMV (Comisión Nacional del Mercado de Valores).
Os benefícios das linguagens de marcação para a comunicação de informação financeira são evidentes e muitos reguladores já o reconheceram. Contudo a linguagem de reporte financeiro extensível, o XBRL, é a linguagem mais apropriada a usar.
CPA – Certified Public Accountant
AICPA – American Institute of CPAs: http://www.aicpa.org/
ERPs – Enterprise Resource Planning
[Hof01] Hoffman, C. and C. Strand (2001), “XBRL Essentials”, AICPA
[Ies07] http://www.ies.gov.pt/site_IES/site/home.htm
[Efi03] http://www.e-financas.gov.pt/ajuda/DGCI/FAQSI.htm
[Alv01] Alves, P.A.; Silva, P.A.G. (2001b) As Novas Tecnologias como Veículo de Transmissão da Informação financeira, 13th Asian Pacific Conference on International Accounting Issues, Rio de Janeiro, Brasil
[Xbp11] http://xbrlplanet.org/